A Quaresma é um tempo importante de preparação para a Páscoa do Senhor, ou seja, a festa da ressurreição de Jesus.
Neste período o cristão é convidado a fazer um esforço sincero de conversão. Sim, de conversão, porque ela é um processo que deve acontecer todos os dias em nossa vida. Ainda que saibamos disso, com a correria do dia a dia, muitas vezes esquecemos de viver esse caminho e acabamos relaxando um pouco e deixando de lado nossas práticas de conversão.
Neste sentido, a Quaresma vem resgatar em nós esse processo, nos chamando novamente ao caminho da santidade, em resposta ao pedido de Jesus: “Sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1,16).
Por isso, durante esse tempo litúrgico somos convidados a praticar a caridade, a penitência e o jejum.
Na oração, buscamos nos aproximar ainda mais do Senhor, a fim de alcançarmos o Seu perdão e assim nos reconciliarmos com Ele.
Já na prática do jejum, demonstramos a Cristo que não desejamos ser escravos das nossas vontades e desejos. Nos empenhamos pelo domínio de nós mesmos!
Por outro lado, com a prática da caridade respondemos ao mandamento de Jesus que nos pede para amarmos o próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22,37-39).
Ao mesmo tempo, com a caridade beneficiamos aqueles que precisam de ajuda e experimentamos a alegria de poder fazer um gesto real e concreto ao próprio Jesus. Afinal, Ele assim afirmou: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mateus 25,40).
O simbolismo do tempo quaresmal
O Tempo da Quaresma é carregado de simbolismo.
Entre eles, uma alusão aos 40 dias que Jesus passou no deserto em jejum e oração. Esta foi a Sua preparação para o que estava por vir: a Sua Paixão.
Também nestes dias Jesus foi tentado pelo demônio, e nesta tentação encontramos outro simbolismo. Em sua condição humana, Jesus sofreu as mesmas tentações a que nós estamos sujeitos. Mas, mesmo fraco e abatido pelo longo jejum, Ele venceu todas as tentações.
Desta maneira, tornou-se para nós a fortaleza onde podemos nos abrigar nos momentos mais terríveis e angustiantes. Também nós, em nossa fraqueza, é que encontramos forças, em Jesus, para sermos fortes.
Por isso, São Paulo escreveu: “Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque, quando me sinto fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10).
Outro simbolismo da Quaresma é a referência aos 40 anos que o povo de Israel errou pelo deserto, antes de entrar na terra prometida (cf. Dt 8,2).
Quaresma: 40 dias?
Todos aprendemos que a Quaresma é um tempo que dura 40 dias.
No entanto, se contarmos os dias que se seguem a partir da Quarta-Feira de Cinzas, que é quando esse período se inicia, até o Sábado Santo, quando termina, resulta em 46 dias.
Como se explica isso?
Na verdade, os domingos não contam como dias de jejum e penitência, por isso são excluídos dessa contagem.
Segundo a Igreja, cada domingo é uma pequena Páscoa, “dia em que, por tradição apostólica, celebra-se o mistério pascal” (cânon 1.246 do Código de Direito Canônico).
Por isso, aos domingos devemos evitar qualquer atitude penitencial.
Como devemos viver esse tempo?
A Quaresma é um tempo favorável para alcançarmos a Misericórdia de Deus, fazendo memória da Paixão de Cristo e de Seu amor, por meio das práticas penitenciais.
Neste sentido, a Igreja nos ensina que é um tempo particularmente apropriado para a oração, a penitência e a caridade.
Além disso, de acordo com o Catecismo da Igreja (nº 1438) a Quaresma é um tempo particularmente apropriado para:
- os exercícios espirituais, ou seja, à oração mais constante e intensa;
- liturgias penitenciais, que são o exame de consciência, o arrependimento e a confissão;
- peregrinações a algum Santuário em sinal de penitência;
- privações voluntárias como o jejum;
- à partilha fraterna (obras de caridade e missionárias).
No entanto, quando se fala, principalmente, em penitência, muitos “torcem o nariz”. Esquecem-se de que Jesus começou a Sua pregação nos exortando à penitência: “Fazei penitência, porque está próximo o Reino dos céus” (Mateus 4,17).
Portanto, ignorar as práticas penitenciais é o mesmo que ignorar a pregação de Cristo.
Por outro lado, há os que imaginam que as práticas penitenciais se referem à autoflagelação, o que absolutamente não o é, ou apenas às práticas exteriores, como o jejum e a esmola.
Na verdade, a essência da penitência é interior, por isso não deve ser confundida com as práticas exteriores, pois elas pouco ou nada têm valor sem a penitência interior: “Rasgai vossos corações e não vossas vestes; voltai ao Senhor, vosso Deus, porque ele é bom e compassivo, longânime e indulgente” (Joel 2,13).
Muito menos deve ser confundida com o desejo de infligir sofrimento ao próprio corpo.
Disposição interior na Quaresma
Os santos Roberto Belarmino e Cornélio a Lápide apontam que foram os apóstolos que designaram a Quaresma no início do cristianismo a fim de que todo cristão possa celebrar dignamente a ressurreição de Jesus.
Portanto, não importa qual ou quais práticas penitências você escolha fazer durante a Quaresma.
O que mais vale é a sua disposição interior e o amor que você dedica Àquele que por amor se entregou numa cruz pela tua salvação!