Na última quarta-feira, iniciamos o tempo mais importante da nossa fé católica: a Quaresma.
A imposição das cinzas desta quarta é um convite para percorrermos os próximos 40 dias com o coração contrito, arrependido, escolhendo somente o essencial para a nossa vida. Afinal inicia-se o período litúrgico em que somos chamados a reflexão e a conversão, para bem nos preparamos para o Tríduo Pascal, em que celebramos a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor!
“Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto” (Catecismo da Igreja Católica, 540).
Para que o período quaresmal tenha o real sentido deste tempo, não podemos vivê-lo de qualquer maneira. Por isso, a exemplo de Cristo que se retira para o deserto, devemos fazer deste tempo um retiro espiritual, em que a oração deve ser sustentada pelo esforço de mortificação pessoal e por atos concretos de caridade.
E para que esta Quaresma não seja apenas mais um período em sua vida, preparamos algumas dicas práticas para ajudar nesse caminho de reflexão e conversão. Confira a seguir.
Quaresma: caminho de conversão
Quaresma é tempo de conversão. Converter-se significa mudar de direção, tomar um outro caminho, andar a partir de então pelo trajeto certo. Ou seja, é um olhar mais atento às nossas atitudes, palavras e omissões, que estão ofendendo a Deus e aos irmãos e tomar a atitude de mudar de postura a fim de assemelhar-se cada dia mais às atitudes de Cristo.
Por isso, é fundamental neste tempo fazer um bom exame de consciência, revendo toda a vida e depois realizar uma boa confissão sacramental. Não omita nada, lance em Deus todas as suas misérias para assim encontrar-se com a misericórdia de Cristo.
Mas convenhamos que nenhum processo de conversão é fácil, por isso a Igreja que é mãe e rica em sabedoria nos propõe práticas que nos ajudam neste caminho, entre elas a oração, o jejum, a penitência e a caridade.
“Quem reza se salva, quem não reza se condena” (Santo Afonso de Ligório)
O primeiro remédio contra as nossas fraquezas e pecados deve ser a oração. Sem a oração perseverante, não temos força para vencer o pecado, pois Jesus disse:
“Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15,5)
Por isso devemos intensificar a nossa oração principalmente durante operíodo Quaresmal. Práticas como meditar o Evangelho do dia, rezar a via-sacra, o santo rosário e participar mais vezes durante a semana da Santa Missa podem nos ajudar muito neste tempo.
Jejum e Penitência
O quarto mandamento da Igreja nos orienta a “jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja”.
Desta forma, somos chamados a intensificar a prática do jejum durante o período Quaresmal, a fim de lutar por sincera conversão, disciplinando o nosso corpo e a nossa vontade, que por vezes inclina-se para o pecado.
Também Jesus, quando retirou-se para o deserto, venceu a tentação de Satanás com jejum e oração fazendo questão de enfatizar contra o demônio:
“Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus!” (Mt 4,4)
A prática do jejum pode ser feita de diversas maneiras, retirando uma das refeições, um tipo de alimento específico, passando-se um dia completo à pão e água, ou jejum somente consumindo líquidos durante o dia.
Mas não se deve fazer jejum para mostrar ao outro ou provar algo a alguém. Da mesma maneira, não se deve jejuar para ficar mais magro ou para ganhar mais saúde.
Pelo contrário, o verdadeiro jejum deve estar intimamente ligado à caridade concreta, já que a Igreja recomenda que ele seja acompanhado da partilha com os necessitados do alimento que não consumimos durante o jejum. Já a penitência pode ser realizada abstendo-se de alimentos ou outras realidades, como por exemplo, deixando de assistir TV durante a Quaresma, diminuir o uso do telefone, das redes sociais, acordar mais cedo para rezar, fazer algum trabalho voluntário ou deixar de fazer algo que gosta muito, entre tantas opções de penitência.
A Penitência não é para nos punir física ou espiritualmente, mas como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, é “uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo o nosso coração” (cf. CIC 1431)
A caridade
“Tenhamos caridade e humildade e façamos esmolas, já que essas lavam as almas das manchas dos pecados” (São Francisco de Assis)
Por fim, mas não menos importante, uma grande recomendação para este tempo é a busca concreta por atos de caridade.
Afinal, poderíamos realizar todos esses sacrifícios e mortificações para cumprir preceitos, mas sem a caridade nenhum deles é válido. Como já nos alerta São Paulo na carta ao Coríntios:
“Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, de nada valeria!” (1Cor 13,3)
Uma das maneiras mais comuns de fazer atos de caridade é doar valores financeiros, ou mesmo dar esmola àqueles que estão mais necessitados. Mas o mais importante em qualquer atitude caritativa é vencermos a indiferença aos nossos irmãos e o egoísmo de nos colocarmos como centro de todas as situações.
Este é um ótimo período para “sairmos de nós” e “partirmos em sentido” à necessidade do outro. Conversarmos com os idosos, visitarmos os doentes, dedicarmos tempo para brincarmos com as crianças, ajudar alguém em tarefas quotidianas, consolar quem se encontra triste, compartilharmos os nossos dons com as pessoas sem buscar retribuições…
Essas e tantas outras ações nos aproximam de Cristo que se doou inteiramente pela humanidade, por amor a cada um de nós, como, então, nós não poderíamos doar um pouco desse amor que recebemos abundantemente?
Que possamos viver este tempo com devoção e abertura à graça de Deus. O Senhor nos espera na cruz para, juntos, celebrarmos a vitória da vida sobre a morte. Que a Virgem Maria nos insira neste itinerário penitencial e nos alcance as graças necessárias para dar passos em nossa conversão pessoal.
Tenha uma Santa Quaresma!
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