Que setembro é para os católicos o mês da Bíblia, certamente você já sabe. Mas, você já se perguntou o porquê deste mês ter sido escolhido para celebramos as Sagradas Escrituras?
Pois, bem, antes de falarmos propriamente sobre a maneira correta de se ler a Bíblia Sagrada, vamos mergulhar um pouco na história.
A escolha do mês de setembro está diretamente ligada a um santo exegeta, ou seja, ou estudioso das Sagradas Escrituras. Trata-se de São Jerônimo, cuja memória litúrgica é celebrada na Igreja Católica no dia 30 de setembro.
São Jerônimo, nascido no ano 347, na província romana da Dalmácia, é um grande biblista na história da Igreja Católica. Isso porque, no ano 382, o Papa Dâmaso o convidou para ser seu secretário particular.
Em Roma, ele recebeu uma das tarefas mais importantes de sua vida: traduzir a Bíblia, do grego e do hebraico para o latim. O seu trabalho resultou numa edição chamada, em latim, de “Vulgata”, e se tornou o texto bíblico oficial da Igreja católica no Concílio de Trento.
Agora que você compreendeu o porquê de o mês da Bíblia ser em setembro, vamos te apresentar 5 coisas que podem indicar que você pode estar lendo a Sagrada Escritura de maneira errada.
Preste atenção!
1. Não entende a Bíblia como um Texto Sagrado
Muitas pessoas costumam ignorar, ou até mesmo desprezar, as Sagradas Escrituras alegando que elas foram escritas por meros seres humanos. Certamente este não é o seu caso, porém é sempre bom nos cercamos de informações confiáveis a respeito de qualquer assunto, quanto mais no que se refere à fé cristã.
A Igreja Católica nos ensina que o autor da Bíblia é o próprio Deus. Mas, como? O Catecismo explica: “A verdade divinamente revelada, que os livros da Sagrada Escritura contém e apresentam, foi registrada neles sob a inspiração do Espírito Santo” (CIC 105).
Ou seja, Deus inspirou cada um dos autores dos textos da Bíblia.
“Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens, na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria” (Constituição Dogmática Dei Verbum, 11)
Por isso, a Igreja Católica considera a Bíblia um livro Sagrado. “Com efeito, a santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como santos e canônicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo, têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja” (Dei Verbum, 11).
2. Ler a Palavra sem compreender os contextos
A Bíblia Católica é formada por 73 livros: 46 do Antigo e 27 do Novo Testamento. No entanto, ao realizarmos a leitura destes Textos Sagrados precisamos levar em conta alguns aspectos, como a cultura dos lugares santos e os gêneros literários.
Um dos textos bíblicos que pode confundir os cristãos, por exemplo, é este: “Jesus falava ainda à multidão, quando veio sua mãe e seus irmãos e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar” (Mt 12,46).
O leitor precisa ter em mente que na cultura hebraica, primos e tios são considerados irmãos. Portanto, uma interpretação literal deste texto poderia levar o leitor a acreditar que a Virgem Maria teve outros filhos, o que não é verdade.
O Catecismo da Igreja nos orienta que os textos bíblicos possuem dois sentidos: o literal e o espiritual, sendo que este último é subdividido em alegórico, moral e anagógico (cf. CIC 115). Para que possamos compreender bem a Bíblia precisamos levar em consideração todos estes sentidos.
“A letra ensina o que aconteceu (passados), a alegoria o que deves crer, a moral o que deves fazer, a anagogia para onde deves caminhar” (Agostinho de Dácia, in CIC 118).
3. Não ler a Bíblia com frequência
Quanto mais manuseamos a Bíblia, mais nos familiarizamos com ela.
No começo pode ser mesmo difícil “decorar” onde está cada livro, mas a prática nos ajuda a organizá-los em nossa mente, e aos poucos conseguimos visualizar rapidamente se um livro é do Novo ou do Antigo Testamento.
O católico é convidado à prática da leitura diária da Bíblia, pois nela “encontra continuamente o seu alimento e a sua força” (Dei Verbum, 24) e “porque nela não recebe apenas uma palavra humana, mas o que ela é na realidade: a Palavra de Deus” (CIC 104).
É por meio da leitura frequente da Bíblia que Deus, nosso Pai e Criador, vem ao nosso encontro, e nos sacia com as Suas palavras.
“A Igreja exorta com ardor e insistência todos os fiéis […] a que aprendam ‘a sublime ciência de Jesus Cristo’ (Fl. 3, 8) na leitura frequente da Sagrada Escritura. Porque a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo” (CIC 133).
4. Não utilizar um método de espiritualidade na leitura das Escrituras
Mais do que simplesmente ler a Bíblia, somos convidados a meditar suas Palavras.
Josué, no Antigo Testamento, já recomendava: “Traze sempre na boca (as palavras) deste livro da lei; medita-o dia e noite, cuidando de fazer tudo o que nele está escrito; assim prosperarás em teus caminhos e serás bem-sucedido” (Js 1,8).
Para nos ajudar a meditar a Palavra de Deus, a Igreja nos indica a prática da Lectio Divina – que é a leitura orante da Bíblia. Essa prática consiste em 4 passos: leitura, meditação, oração e contemplação.
A Lectio Divina deve ser feita em individualmente, num ambiente silencioso e sem pressa.
“É tão grande a força e a virtude da Palavra de Deus, que ela se torna para a Igreja apoio e vigor e, para os filhos da Igreja, solidez da fé, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual” (CIC 131).
5. Ler sem buscar a luz do Espírito Santo
Hugo de São Vítor, autor místico da Idade Média, dizia que a Bíblia é um só livro, e esse livro único é Cristo “porque toda a Escritura Divina fala de Cristo e toda a Escritura Divina se cumpre em Cristo”.
A Igreja Católica venera a Bíblia Sagrada da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, e que “ambos alimentam e regem toda a vida cristã” (CIC 141).
Contendo a Bíblia ensinamentos inspirados pelo Espírito Santo de Deus, é a esse mesmo Espírito que devemos recorrer para uma correta interpretação da Palavra de Deus e a sua vivência em nossa vida.
“Para que as Sagradas Escrituras não permaneçam letra morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna de Deus vivo, pelo Espírito Santo nos abra o espírito à compreensão das Escrituras” (CIC 108).
Que possamos todos nós, não apenas no mês de setembro, mas a cada dia, encontrarmos na Bíblia Sagrada uma fonte do amor misericordioso de Deus. Façamos nossas, as palavras do salmista:
“A vossa Palavra é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos” (Sl 118, 105).