Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
Os padres da Igreja fizeram uma análise importante dos fatos que antecederam ao nascimento do Messias, do Cristo Senhor, percebendo sempre neles, o desígnio salvífico de Deus para a humanidade. Tudo foi feito para a realização da Vontade de Deus e assim a nossa vida foi salva pela vinda do Cristo, do Filho de Deus na carne, através de Maria. Vejamos a seguir estes pontos em alguns dos padres da Igreja.
Severo de Antioquia, Patriarca de Antioquia, séculos V e VI teve presentes a genealogia de Jesus (cfr. Mt 1,1-16). São Mateus colocou a lembrança dos antigos pais à realidade humana, na qual o evangelista mostrou que o Cristo tinha de fato compartilhado o ser e a natureza dos seres humanos. Ainda que estas coisas fossem escritas, para dar a veracidade das coisas, porque é que alguns ainda alguns duvidaram da humanidade do Senhor? O evangelista teve presentes alguns personagens com relações ilícitas, fora da lei, para demonstrar que o Cristo veio curar a nossa natureza que pecou, caiu, se precipitou em desejos ilícitos. Ele a assumiu dando-lhes novamente a vida nova. Por isso a Palavra de Deus é clara neste sentido de que o Senhor não se preocupou com os anjos, mas com a descendência de Abraão, de modo que era necessário ser a ela semelhante aos seus irmãos (cfr. Hb 2, 16-17). O Cristo assumiu a natureza humana para purificá-la, para sará-la de sua doença, para elevá-la por causa de sua caída. O evangelista teve presentes esses pontos pela descida do Senhor à nossa realidade por causa da sua benevolência com o fim de glorificá-la pelo seu amor à humanidade[1].
São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, nos séculos IV e V, afirmou o anúncio do anjo a José. Ele que era esposo prometido de Maria, homem justo e não querendo expô-la, cogitou em despedi-la em segredo. Mas enquanto assim ponderava a essas coisas, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor (cfr. Mt 1,19-20). Vejamos a bondade deste homem no sentido que não disse nada a ninguém, mas pensava entre si mesmo e procurava esconder à mesma Virgem o motivo do seu afastamento. José era um homem justo, humilde de modo que ele ouviu as palavras do anjo que lhe disse que não era para temer receber Maria, como sua mulher (cfr. Mt 1,20). Um ponto importante percebe-se neste anúncio dirigido a José, pela lembrança de Davi, do qual deveria vir Cristo para desta forma lembrá-lo da promessa feita a toda a sua descendência. O que significa receber, tomar Maria? Segundo o bispo de Constantinopla havia o significado de tê-la em casa, aquela que lhe foi confiada por Deus. No mesmo modo no qual Cristo confiou-a ao discípulo (cfr. Jo 19,27), assim também Deus a confiou a José. Desta forma o anjo lhe disse a José que Aquele que nasceria de Maria, era obra do Espírito Santo (cfr. Mt 1,20)[2].
São Beda o Venerável, monge inglês, dos séculos VII e VIII teve presente o anúncio do nascimento de São João Batista. É preciso considerar como ao nascimento do Senhor o anjo disse que havia uma grande alegria a ser anunciada que o era também para todo o povo porque nasceu o Salvador, que é o Cristo Senhor (cfr. Lc 2,10-11), da mesma forma o anjo disse a Zacarias que ao nascimento de João que Ele teria uma grande alegria e muitos se alegrariam com o seu nascimento porque ele seria grande diante do Senhor (cfr. Lc 1,14-15). Se de fato nos alegramos pelo nascimento das duas crianças, nós anunciamos a todo o povo a alegria maior, do nascimento de Cristo, Salvador do mundo, Filho de Deus onipotente, sol de justiça (cf. Ml 3,20; Lc 1,78), do qual foi grande diante do Senhor e não há limite à sua grandeza (cfr. Sl 144, 3). Jesus viveu entre os pecadores mas permaneceu puro de todo o pecado. Se João converteu muitas pessoas ao Senhor, o Senhor não pára de converter todo o dia à sua fé e ao seu amor muitos de todas as partes do mundo, iluminando-os interiormente e também para que sejam batizados na água por Deus Uno e Trino e contemplar a face do seu Pai[3].
Fócio, Patriarca de Constantinopla, século IX afirmou o aparecimento do anjo Gabriel à Virgem Maria ao proclamar que Ela era feliz, cheia de graça pois o Senhor era com ela (cfr. Lc 1,28). Por intermédio dela, o Senhor libertou todo o gênero humano da sua antiga desventura e da sua maldição. Davi também se alegrou porque dentro de sua descendência deveria nascer o Salvador, o Senhor de todos nós (cfr. Sl 44, 45, 11-12). Nós o celebramos como o Senhor e criador de toda a coisa. Maria ouviu com atenção ao anúncio do anjo, porque ao dizer sim, houve o cancelamento do veneno da desobediência, aquele veneno que foi derramado nos ouvidos de Eva, fazendo participante a humanidade inteira, e assim agora nós obedeçamos somente aos mandamentos do nosso Criador e Salvador. Maria ouviu atentamente o anúncio da concepção pelo anjo, porque o Verbo consubstancial e eterno com o Pai, sem abandonar a própria essência, escolheu de habitar dentro dela em vista da nossa salvação e na sua misericórdia abriu os tabernáculos do céu a fim de que um dia possamos permanecer neles[4].
O Natal está próximo de modo que Deus é feito carne para a nossa salvação. mas os fatos antecedentes colocam a participação humana no desígnio de Deus para que assim Ele pudesse entrar e salvar a todos. Vivamos o advento como tempo de preparação ao santo Natal.
[1] Cfr. Severo di Antiochia, Omelie cattdrali 94. In: Nuove Letture dei giorni, testi dei padri d´oriente e d´occidente per tutti i tempi liturgici. Scelta a cura dei fratelli e delle sorelle della Comunità di Bose. Edizioni QIQAJON, Comunità di Bose. 2012, Magnano (BI), pgs. 41-42.
[2] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sul Vangelo di Matteo 4, 5-6. In: Nuove Letture dei giorni, testi dei padri d´oriente e d´occidente per tutti i tempi liturgici, pgs. 42-43.
[3] Cfr. Beda Il Venerabile, Omelie 2,20ª. In: Nuove Letture dei giorni, testi dei padri d´oriente e d´occidente per tutti i tempi liturgici., pgs. 44-45.
[4] Cfr. Fozio, Omelie sull´Annunciazione 2,5. In: Idem, pgs. 45-46.
Fonte: CNBB
